domingo, 28 de junho de 2015

De moto com destino à Bolívia

Resumo:

Total de kms, pelo odômetro da guerreira: 8.935km. Pelo GPS, 8.603km. 22 dias de viagem.

Roteiro de ida: Brasília, Santa Fé do Sul (via Prata, Iturama e Jales), Campo Grande (via Selvíria e Três Lagoas), Puerto Quijarro, Santa Cruz de la Sierra, Villa Tunari, La Paz (via Cochabamba). De La Paz fomos até Yolosa para subir a Estrada da Morte, conhecida localmente como Yungas Road. (no mapa, não incluí a Estrada da Morte, que perfaz uns 200km, ida e volta).





Roteiro de Volta: La Paz, Potosi, Sucre, Uyuni, Tupiza, Salta (Arg), Presidência Saenz Pena (Arg), Posadas (Arg), Maringá, Uberaba e Brasília.



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Há tempos planejava conhecer a outrora temida Estrada da Morte, na Bolívia. Hoje trata-se mais de uma atração turística. Ciclistas e motociclistas percorrem suas estreitas pistas, além de contemplarem o visual fantástico. 
Foto da internet
Há riscos. Calculados. Mas, com cuidado e muita atenção, os riscos diminuem. 

Comecei a praticar o ciclismo há pouco tempo. Em fevereiro. Com intenção de viajar pelo Brasil e Europa. Então, por que não unir o útil ao agradável? Minha primeira aventura de bike será descer a estrada, também conhecida pelo nome de Yungas, de bike e depois, no outro dia, subo com a Guerreira (minha moto).... A ideia é boa!!

Decisão tomada, subi na moto, dei a partida e fui. Escolhi entrar na Bolívia por Corumbá. Há algumas alternativas para se chegar até lá. Escolhi o seguinte roteiro, desde Brasília: BR-153 até Prata, seguindo até Santa Fé do Sul, passando por Campina Verde, Iturama e Jales. No 2º dia, Campo Grande, passando por Ilha Solteira, Selviria e Três Lagoas. No 3º dia, Puerto Quijarro, já em território boliviano. Estradas muito boas. 

Entrando na Bolívia:

1º, vamos ao guichê da Polícia Federal, que fica à direita, na foto, ainda no Brasil, para carimbar o passaporte, saindo do país. 

A chegada num domingo foi providencial. Sem filas. Sem tumultos. Guichês vazios. Não levei meia hora para a imigração e aduana. 



Fica tudo logo na entrada. À esquerda da foto seguinte, a aduana. À direita, a copiadora e onde se faz o câmbio. E lá na frente, à direita, a imigração. Foto tirada já da Bolívia. 

2º, entra na Bolívia, vai à imigração dar entrada no país. Necessário preencher um formulário. Simples. 

Os funcionários são simpáticos. 


Passaporte carimbado, e com o canhoto do formulário na mão, atravessa-se a rua, faz-se o câmbio (hoje estava 2,15 para 1 real), e tira cópias dos documentos: página de identificacao do passaporte e da página onde tem o carimbo da PF, canhoto do formulário da imigração boliviana, habilitação, CRLV da moto.

3º: Atravessa a rua e vai para a Aduana, com as cópias e com a moto. O funcionário preencherá a Declaração Jurada, documento em que você se compromete a deixar o país no prazo e pagar as eventuais multas e outros deveres. E outro documento, declaração de bagagem e divisas. 


O prédio está em reforma. Aliás, derrubaram o antigo e estão construindo um novo. A aduana funciona num trailer. 




Pronto? Quase!! Falta um último documento. Segue-se por 12km até uma rotatória, virá à direita, segue para Puerto Suarez, sempre à frente, por uns 2km até a delegacia. 



Lá, você recebe a orden de traslado. O policial de trânsito preenche o documento, lhe entrega e diz que custa 50 bolívares. Argumento, dizendo que ano passado era 20. Dou 30 e está ótimo. 



Propina? Não creio. Talvez uma 'gorjeta'... 

Pronto. Não é necessário seguro, carta-verde, nada. 

Volto para Puerto Quijarro, onde resolvi pernoitar. Como o objetivo é descansar, fiquei no hotel Bibosi. Sem luxo, mas com estacionamento, Wi-Fi, desayuno (café da manhã) e banheiro e cama razoáveis. Melhor que voltar para Corumbá. Decisão acertadissima. Recomendo. 

Antes, abasteci. Sem nenhum problema. Sem preencher qualquer documento. Sem perguntas. Paguei 3,74 Bolívares o litro. R$ 1,74. E gasolina de primeira. 




Perto do hotel, a estação ferroviária. Trem que leva até Santa Cruz. 12h. Dá pra levar a moto. 0,90B$ por kilo...


Pra relaxar...



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Santa Cruz => Os 660km que separam a fronteira de Santa Cruz, predominam retas. Pavimento muito bom. Maioria concreto. 

Muitos bovinos pastando nas margens. Mas, raramente atravessam. Necessário ficar atento. 


Se a autonomia da sua moto é superior a 250km, não há com o que se preocupar. Os surtidores (postos de gasolina) ficam na própria RN4. Por mais que você queira, ou o GPS mande, NÃO saia da carretera. Não precisa. Abasteci depois de Roboré (250km) e em São José de Chiauititos (160km). Na rodovia!!! Não precisa entrar nos povoados, a menos que você queira ou a autonomia da moto é menor. 

Chegar em Santa Cruz não é diferente de chegar a qualquer outra grande cidade. Muito trânsito. Há que se ter cuidado com os veículos que fazem transporte coletivo (caravans, vans, etc...). 

Veja mais sobre abastecimento aqui.

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As fotos daqui pra frente, posto depois...

De Santa Cruz a Cochabamba (475kn), a estrada é razoável. Em alguns pequenos trechos o asfalto é precário. Por ter saído bem tarde de Santa Cruz, não consegui chegar em Cochabamba. Dormi em Villa Tunari, num hotel fazenda muito bom, à beira da rodovia. El Tucanos. Recomendo.

Em vários postos não havia gasolina. Em uns faltavam mesmo. Em outros, os frentistas diziam que não tinha autorização para abastecer para estrangeiros (veja aqui a situação do abastecimento para veículos estrangeiros). Só consegui abastecer já chegando em Villa Tunari, com o marcador na reserva. Isso porque deixei para abastecer após 200km. Pode ser que antes, havia gasolina.  

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No dia seguinte sai cedo (8:30), com destino a La Paz. Levei 4h de Villa Tunari a Cochabamba. Trânsito muito truncado. Em vários trechos, chamados de geologicamente instáveis, o pavimento é de pedra, dificultando a pilotagem. 

De Cochabamba a La Paz é tranquilo. 350km que são feitos em 5h. A subida da cordilheira tem uns 160km de curvas e paisagens belíssimas. Leva-se umas 3 horas. Foi muito legal o meu amigo Marcelo, que vive em La Paz, me aguardar a 70km da cidade. Ele e sua filha.

Permaneci por 4 dias na cidade. no dia 3/7, descansei e passeei pela cidade. Fui conhecer o novíssimo meio de transporte da cidade: Teleférico que liga a cidade de La Paz a El Alto. Muito bom. E barato, para turistas. Cerca de R$ 1,50 por viagem.

No dia 4/7, como havia previsto, desci a Estrada da Morte (Death Road), de bike. Debaixo de muita chuva. E frio. Mesmo nessas situações, vi que era perfeitamente possível subir de Harley.

No dia 5/7, partimos eu e o Marcelo para o desafio da viagem. Subir a Estrada da Morte. Eu, com uma Ultra. Ele, com uma Super Dyna Glide carburada. Foi muito bom. Ao contrário do que li, a estrada não oferece tanto perigo. Basta pilotar com atenção redobrada.

No dia 6/7, mais passeios pela cidade e descanso. No dia seguinte iria para Potosi.

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De La Paz a Potosi são 560km. Alguns pequenos trechos ruins. Um vento muito forte, que me fez lembrar da Patagônia. Isso, até Oruro, onde abasteci a guerreira. Permaneci por pouco tempo na cidade e segui para o meu destino do dia: Potosi. Após Oruro, o visual muda. São curvas, montanhas, asfalto muito bom. Uma bela paisagem durante todo o percurso.

Chegando em Potosi, umas pedras na estrada chamaram minha atenção. Mais à frente, umas cordas bloqueavam algumas ruas. Até então não sabia que se tratava de uma greve geral (explico em outro post). Fui para o hotel, na realidade um hostel, muito bom. Jantei e dormi. No hotel fiquei sabedo do 'paro' e resolvi não passear pela cidade.

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No dia seguinte, 8/7, saí para conhecer Sucre. Tive alguma dificuldade para sair da cidade. Os bloqueios aumentaram. Mas quase todos diziam: moto pode!! Assim, fui.

Estrada fantástica. Até aqui, as estradas da Bolívia me surpreendem. São belas paisagens. Como não estavam abastecendo em Potosi, abasteci num posto a 40km da cidade. Sem problemas.

Sucre é uma bela cidade. A maioria das construções são brancas. A cidade é viva. Muita gente na praça. O mercado central tem de tudo. Aproveitei e comprei mais um cartão de memória para a GoPro. A minha pequena estadia na cidade me deu uma certeza: vou voltar. É uma cidade turística.

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Saí de Sucre em direção a Uyuni. Teria que passar novamente por Potosi. A dificuldade para atravessar a cidade (obrigatório). A dificuldade já foi maior do que no dia anterior. Mas consegui, uma hora depois, para percorrer cerca de 5km.

A estrada até Uyuni, com certeza, está entre as mais belas da América do Sul. Visual fantástico. Lhamas pastando às margens. Vi duas atropeladas no asfalto. Acontece. Dizem que significa sorte para quem vê... E acho que é verdade.

Em Uyuni, visitei o Salar. Coisa de louco. Muito bom o passeio. Na volta, já noite, passei pelo maior risco de toda a viagem. O motorista da agência de turismo que contratei (a primeira que entrei), parece que cochilou e deixou o carro sair do asfalto por duas vezes. Momento de muita tensão. Na primeira, o alertei que deveria tomar cuidado. Na segunda, as mulheres que estavam na Toyota gritaram de pavor. Foi tenso. Mas chegamos bem. Graças a Deus.

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A ideia, no dia 11/7, era seguir até Tupiza. Teria que passar novamente por Potosi. Mas, como disseram, moto passa.... Ledo engano. A passagem por Potosi foi muito tensa (veja detalhes aqui). Cheguei às 12h30 e só consegui sair da cidade às 18h10. 

Viajei à noite numa das mais belas estradas da Bolívia. Perdi o visual. Mas voltarei. Cheguei em Tupisa às 21h15. Foi o tempo de jantar e dormir. Cansado.

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No dia 12/7, deixei a Bolívia, por Villazón. Procedimentos fronteiriços rápidos. Às 16h cheguei em Salta/Argentina. Descansei até 19h.

Como havíamos panejado por Watshapp, encontrei o aventureiro Thiago Muzika, que está indo para o Alaska, numa CG 125. Esteve em ushuaia em pleno inverno. Louco. Conversamos até 2h da madrugada. Trocando informações sobre viagens. O alertei sobre a chegada no Alaska, no inverno. Não acho que seja impossível. Mas.... Vamos aguardar.

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De Salta, segui até Presidência Roque Saenz Pena, onde cheguei debaixo de muita chuva, às 20h30. A ideia era chegar em Corrientes. Mas não foi possível, devido a chuva e às obras na estrada. Alguns trechos muito ruins.

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Depois, pernoites em Posadas, Maringá e Uberaba.
Cheguei em casa às 17h40 do dia 17/07, véspera do meu aniversário. O meu amigo Marcos Quezado me acompanhou de Cristalina até Brasília. Gostei muito.

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14 comentários:

  1. Bom relato, vai ajudar na minha ida à Bolivia, mês que vem... abraço e boas estradas!

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  2. Boa noite!!! O seu relato esclareceu e tirou muitas dúvidas minhas. Gostaria de agradecê-lo. Gostaria também de pedir mais alguns informações. Vou atravessar a Bolívia em dezembro, minha meta é chegar até Cuzco. Vou de carro e farei o percuso de Corumbá a Santa Cruz de la Sierra, de Santa Cruz a Cochabamba e de Cochabamba a La Paz. Fiquei preocupada com o trecho relatado por vc entre Villa Tunari e Cochabamba. Dentro desse percurso que farei até chegar em La Paz, vc poderia me dar mais detalhes de como está a estrada, o que encontrarei pela frente e quais são os momentos mais difíceis do trajeto? Agradeço por sua atenção e aguardo ansiosa por sua resposta para que eu possa continuar planejando minha aventura pela Bolívia até o Peru. Anapaula.

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    1. Desculpe a demora na resposta. Creio que você já tenha ido. Mil perdões. Mas o trecho é excelente.

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  3. Que boa viagem. No começo do ano fui a bolivia, fiz todos os tramites que você fez, mas no final fiquei preocupado de avançar até La Paz. Tinha dois carros brasileiros. Falaram que a policia em Santa Cruz tava pegando pesado, porque o condutor não era o proprietário do veículo. Deixei a moto em corumba e segui de onibus.

    Minha pergunta é como foi com os policiais na Argentina? Teve que pagar alguma coisa? E na Bolivia?

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    1. Para viajar ao exterior, o veículo deve estar em seu nome ou ter uma autorização com firma reconhecida, do proprietário, ou arrendador.
      Sem problemas com polícia. Muito pelo contrário. São prestativos. Vá sem medo.

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    2. Valeu, me animou muito e já vou me preparar para 10/16, acho que terei tempo e dinheiro para ir até La Paz e ficar uns dois dias lá. Id.: Rafael S. de Oliveira rafsoliv@hotmail.com

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  4. Boa Tarde Celso......parabéns pelas suas aventuras, mt obrigado pelas informações.
    Estamos planejando viagem para março de 2017, faremos praticamente o mesmo trajeto.
    Gostaria de saber como consigo os mapas da Bolivia e Peru para gps garmin.
    Abraço

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    1. Adquiri no mercado livre. Eles enviam o link. Há vários fornecedores. Escolha com critério.

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  5. celso, boa noite....estou planejando esta viagem para 2017...voce pode me mandar o roteiro...paulo@itatibavans.com.br

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    1. O roteiro está na matéria. Qualquer coisa: contato@demotocomdestino.com

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  6. SALAR DE UYUNI- vc passou quanto tempo por lá ? Quantos dias seriam um mínimo para conhecer legal? E vc rodou no Salar com a PODEROSA?

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    1. Baddy, passei só um dia. Não fui ao salar com a Guerreira, o que me arrependi. É tranquilo. Fiz um tour com uma agência. Creio que um dia é suficiente. Talvez uma noite para curtir o céu, para quem gosta.

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  7. Celso

    Pretendo fazer este roteiro pela Bolivia saindo de Cusco e entrar no Brasil por Corumbá. Nossa viagem será em outubro de 2018.
    Pergunta: Como é a temperatura nesta época? Corro risco de pegar gelo nas rodovias?

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